"A Matemática pura é, à sua maneira, a poesia das idéias lógicas.” (Einstein)

sábado, 3 de julho de 2010

Samantha Green

Hoje estou me sentindo a personagem de Johnny Deep de A janela Secreta. Caneca com chá mate (eu sei que o dele era café) do lado do computador, roupas largas e com uma vontade de escrever uma estória dramática.

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Por mais que eu adoce meu chá continua amargo, por mais que eu durma ainda me sinto cansada, por mais que eu ria ou que eu chore, ainda estou inerte a qualquer sensação, qualquer reação que o mundo possa causar. Estou em estado de choque a dias. Meus olhos são janela para o nada, para o vazio que encontra-se dentro de mim. Não vejo graça em piadas, não sinto dor ou calor. Apenas o nada.

A minha mente é como se fosse um computador, calculando e recalculando cada idéia, cada passo tomado, cada momento. Analisando cada jogada, como se a minha vida fosse um jogo de xadrez. Eu já sei o que fazer, talvez me falte coragem... Ou apenas mais ódio.

Ele teve coragem, ele teve a audácia de me fazer de boba. Ele foi um ator cada vez melhor cada dia que se passava conseguia olhar no fundo dos meus olhos e simplesmente mentir. Oras, como se fosse difícil enganar-me com aquele par de olhos azuis penetrantes e aquele abraço em paralelo com seu sussurro em meu ouvido “Eu te amo, vai ficar tudo bem”.

Quem sabe ele deveria ter praticado mais aulas de teatro, ou quem sabe eu deveria ter ignorado meu sexto sentido feminino e realmente acreditado que estava tudo bem. Que ele não jogaria pela janela anos da minha dedicação à nossa família e principalmente a ele. Eu larguei tudo por nós, larguei tudo pelo nosso...amor. E o que ele me deu em troca?

-- Acende um cigarro --

Talvez ele achasse que a minha mania de dizer “precisamos dividir a nossa felicidade com as outras pessoas” incluísse dividi-lo com aquela...não encontro um adjetivo apropriado. Mas, do mesmo jeito que ele interpretou mal o meu lado altruísta, ele interpretou mal o quanto eu poderia ser, ou melhor, o quanto eu gosto de exclusividade.

Gosto tanto, que se ele não podia ser só meu, ele não seria mais de ninguém. Ao menos agora ele já sabe, u percebeu quando começou a se sentir sufocado com o chá que preparei essa manhã. Erva cidreira...

Aqueles olhos de “Ajude-me! O que está acontecendo?” eram como poesia, como o cheiro de um café quente dentro de um chalé de madeira numa floresta boreal. Acho que ele entendeu o que estava acontecendo quando deixei escapar sorriso saindo pelo canto da boca. Aí seus olhos mudaram a frase e me diziam “Sua vadia! Como descobriu? Como pode fazer isso comigo?”. Não consegui segurar minha gargalhada de prazer... A vida dele esvaecendo-se inversamente proporcional com o retorno glorioso da minha dignidade. Aposto que aqueles olhos azuis nunca mais enganariam tão bem uma mulher. Principalmente esta que vos fala, que dedicou e sacrificou a sua juventude e beleza por esse cafajeste.

Mas a culpa não foi dele, pobre coitado. Vítima da beleza e sedução feminina daquela garçonete.

"Rua Frederic Loan, 57
Apto. 12 - 19h30
Espero ansiosamente por seus olhos cintilantes."

Esse foi o motivo do chá dele ficar mais amargo do que o meu poderia ficar.

Talvez aqueles olhos azuis não sejam mais tão cintilantes, minha querida. Agora são 19h15, ainda estou em tempo de não deixar a pobrezinha esperando. Tenho certeza de que ele não vai se incomodar de ficar um pouquinho sozinho enquanto eu vou cuidar desse assunto, ou não me chamo Samantha Green.

A propósito, querido: obrigada pelo sobrenome, combina com os meus olhos.

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