"A Matemática pura é, à sua maneira, a poesia das idéias lógicas.” (Einstein)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coisa de cinema

Ela subiu no palco com seu vestido vermelho. Ele está sentado ali com outra, mas ela sabe que ele a reconheceu e tentou disfarçar a surpresa.

Ela pega o microfone e aquele som de fundo de karaokê começa, apesar de conhecer a música ele não sabe bem qual é, mas não demora muito pra entender o que ela queria dizer através da mesma:

(...)

'No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos
E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contra mão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada...
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro...
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida'


(...)

Ele pensa consigo mesmo que ela não mudou nada no seu jeito dramático de ser, apesar de ter deixado aquela menina pra trás e ter virado uma mulher.De fato velhos hábitos não mudam, ela ainda gosta de cantar. Quando a “outra” vai ao banheiro o garçom entrega um guardanapo escrito e diz que veio da mesa seis. Ele nem precisou olhar para o número da mesa, conhecia aquela caligrafia:

“...Não espere nem mais, nem menos que isso. Realmente não cabe mais sermos somente amigos.”

Assim que ele levantou os olhos para a mesa seis para fitar a moça de vermelho - a sua moça de vermelho - reparou que ela estava pagando a conta, apenas uma caipinha, e ao mesmo tempo a sua oficial estava voltando do toilet – achou engraçado pensar em oficial, dava duplo sentido até nos seus pensamentos já que oficial também lembrava alguém superior no exército, e ultimamente seu namoro era um campo de batalha. Enfiou o guardanapo no bolso disfarçadamente.

(...)

Chegando em casa, deu um jeito de ficar sozinho para ler o papel mais uma vez antes de jogá-lo fora. Definitivamente seria a terceira guerra mundial se a Oficial desse por conta de alguma coisa assim em suas mãos. Mas ao desdobrar o papel, viu que no meio dele havia outro, totalmente em branco. “Ela adora os clássicos”. Ela ainda devia assistir filmes a lá CSI e FBI e um papel em branco só poderia dizer uma coisa: Suco de limão. A caipirinha, claro!

A Oficial tinha acabado de ligar o chuveiro, o que dava a ele exatamente 27 minutos de folga. Cuidadosamente pegou uma vela na terceira gaveta da cozinha, e uma caixa de fósforos. Foi até o quintal e deu uma olhada no relógio, 23 minutos. Acendeu a vela, deixou um pouco da parafina cair sobre o chão iluminado pela luz do luar e fixou-a no piso. Ansioso em saber o recado oculto e achando um pouco de graça na brincadeira de detetive começou a passar cuidadosamente o papel pela chama e, como esperava, palavras com aquela caligrafia já conhecida começaram a surgir:

“Você não está jogando xadrez, está apenas empurrando peças. Quack!”

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